Foto: Reprodução
O sofrimento de uma mãe é doloroso de se ver. Principalmente quando se trata do desaparecimento de um filho, como no caso de Yoanara Moreira da Silva, que está há oito meses em busca do jovem Melquizedequi Moreira da Silva, de 14 anos. O adolescente saiu para comprar um lanche e nunca mais foi encontrado na região da Grande Santa Maria da Codipi, zona Norte de Teresina.
Assim como Melquizedequi, 110 pessoas foram registradas como desaparecidas pela Delegacia de Investigação de Desaparecimento de Pessoas do Piauí, que funciona dentro da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). No entanto, ao contrário da maioria dos casos que chegam aos policiais, este ainda não foi solucionado.
A mãe reclama pelo menos o corpo do filho. “Seria um prazer encontrar pelo menos o cadáver do meu filho. Você não sabe como é desesperador. Dizem que ele foi morto, mas cadê o corpo? Quero justiça e espero resposta da investigação. Meu filho sumiu quando foi comprar um lanche, e pelo que dizem, uma autoridade o executou por conta de uma discussão na minha casa”, revela Yonara.
A discussão teria culminado no assassinato, mas até agora nada foi elucidado. “É um desespero muito grande. Queria muito ter meu filho de volta. Era meu companheiro, uma pessoa pacífica. Não entendo o porquê disso. Ele foi na padaria e a atendente percebeu que ele estava muito nervoso, perguntou o que era e ele disse que estava sendo perseguido. Depois deixou a bicicleta na casa de um vizinho e nunca mais o vimos, é triste demais”, acrescenta a mãe desesperada.
“Melqui”, como era conhecido por amigos e familiares, foi visto pela última vez às 10h30 da quinta-feira do dia 30 de maio, em uma padaria do bairro Jacinta Andrade. O adolescente reside com a mãe, dois irmãos e um sobrinho, também no bairro da região. “Tudo que eu queria era meu filho de volta!”, dispara a mãe, emocionada. “É um sofrimento que não tem tamanho, não dá pra explicar. Vocês [aponta para a equipe] e nem ninguém vão entender. Só quem é mãe e tem filho desaparecido sabe. Quero justiça”, cobra Yonara.
99% das pessoas desaparecidas são encontradas no Piauí
O delegado Francisco Costa, o “Barêtta”, conta que o Piauí tem bons resultados nas investigações de pessoas desaparecidas. Ele afirma, ainda, que a maioria dos sumiços são voluntários. No entanto, as investigações são padronizadas para cada tipo de caso, e as forças policiais acabam investigando todos os casos que chegam à delegacia.
“Dos 110 casos que analisamos, 99% dos casos foram resolvidos. Tivemos o encontro e localização das pessoas. O que temos hoje é uma delegacia especializada para que possamos investigar, seguindo o protocolo. O protocolo de criança e adolescente, por exemplo, é diferente de adultos e idosos. Mas todos têm um procedimento de investigação padrão para localização”, explica “Barêtta”.
O boletim de ocorrência deve ser feito de imediato na delegacia especializada. “A maioria das ocorrências são de desaparecimento voluntário. Tivemos dois ou três casos que culminaram em atos criminosos, mas que logo foram investigados. Quando desaparece uma pessoa ou ente querido, é preciso fazer o registro imediatamente aqui na delegacia. Não tem essa de esperar 24h para fazer o registro. Temos policiais especializados e um formulário que precisa ser preenchido”, acrescenta o delegado.
Caracteriza-se como desaparecimento quando a pessoa não está no lugar que ela costuma habituar. Ou seja, não volta para casa ou não procura alguém próximo. “Neste caso devemos analisar se o desaparecimento foi voluntário, involuntário ou forçado. Cada um tem um protocolo diferente de investigação. Mas todos eles são abertos Procedimento de Investigação de Desaparecimento de Pessoas, o chamado PID, que é feito imediatamente”, aponta Francisco Costa. (L.A.)
Homens casados são os que dão mais trabalho para a polícia
Os sumiços voluntários geralmente são de homens que querem “fugir” das esposas, aponta o delegado. “Geralmente são homens que quando as mulheres estão trabalhando resolvem dar uma volta, somem, desligam celular e criam um problema para o aparelho policial. Muitos deles são encontrados e não querem ser localizados. No entanto, se for maior de idade, não podemos obrigá-los a aparecer. Só se for uma criança ou adolescente”, revela Barêtta.
No entanto, há casos graves que são investigados. “Temos um caso recente de um motorista de reboque, que está desaparecido há dias. Encontraram o carro dele queimado próximo ao Angelim, mas estamos com a investigação bastante avançada e estamos executando todas as operações dela. Mas com certeza vamos encontrar e dar uma solução para o caso”, aponta o policial.
A delegacia especializada tem otimizado as investigações. “Tivemos mais de 100 ocorrências em 2019, com registro no DHPP. Ano passado inauguramos a Delegacia de Investigação de Desaparecimento de Pessoas, a primeira estrutura neste sentido criada no Estado. Antes ficava na Polinter ou nos Distritos, mas foi unificado. Seguimos uma tendência nacional de incluí-la no DHPP”, lembra Francisco Costa.
Um banco de dados regional deve auxiliar o trabalho da Polícia Civil. “O secretário Fábio Abreu está com um projeto para procedimentos de desaparecimento de pessoas. Vamos criar um banco de dados em nível estadual, com acesso ao banco nacional do Ministério da Justiça, para encontro de pessoas desaparecidas. Já temos esse intercâmbio, mas uma lei de 2009 pede a criação do banco em nível de Estado”, finaliza “Barêtta”. (L.A.)
Fonte: Meio Norte
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