Os corpos de dois idosos foram trocados no Hospital Regional Justino Luz na cidade de Picos. Os idosos não resistiram às complicações da Covid-19 e faleceram na terça-feira (22). O funcionário de uma funerária, que conhecia um dos pacientes, percebeu a troca e fez o alerta aos familiares.
O ferreiro Pedro Jorge Marciano, de 83 anos, estava internado no hospital desde domingo (20). Na terça-feira (22), ele sofreu duas paradas cardíacas e veio a óbito às 16h26. A família foi comunicada por volta das 17 horas. No mesmo dia, Amadeu Francisco Carvalho, de 98 anos, também perdia a luta contra a doença.
A família de Pedro Jorge Marciano relata ao Cidadeverde.com que a funerária começou a preparação para remoção do corpo do hospital para o sepultamento. Ao chegar no hospital, às 23 horas de terça (22), após os procedimentos necessários, o funcionário da funerária percebeu que o corpo não tinha identificação do paciente. O funcionário era amigo da família e conhecia Pedro Jorge Marciano.
“Ele pediu para chamar a enfermeira, disse que não tinha identificação e que não poderia levar o corpo sem identificação. Pediu para abrir um pouco o saco, para pelo menos tentar constatar. Ao abrir (o saco), constatou que não era o meu pai. Começou uma discussão entre eles, e o (funcionário da funerária) pediu que trouxessem o corpo do meu pai. Eles disseram que não sabia onde estavam o corpo do meu pai”, conta o filho de Pedro, Arinaldo Marciano Veloso.
Sem encontrar o corpo, o funcionário da funerária comunicou ao filho da vítima e pediu que ele acionasse o serviço social. “Esse é um momento muito difícil, já não podemos velar o corpo do nosso pai, ainda somem com o corpo”.
Simões
Arinaldo Marciano relata que ao chegar no serviço social, o funcionário de outra funerária ouviu a discussão e informou que fez a remoção de um corpo sem identificação para a cidade de Simões.
“Ele disse que tinha feito uma remoção mais cedo, umas 19h30, de um paciente com covid para Simões, que não tinha identificação. Por ele está fazendo o serviço para Simões e o maqueiro falar que era o único corpo, ele colocou na urna e levou para o sepultamento. Ele falou porque viu todo o constrangimento que nós estávamos passando. Ele foi o único que deu uma luz para gente porque o hospital não sabia onde estava o corpo e como tinha sumido”.
Destroca e dois sepultamentos
Os corpos foram destrocados na madrugada desta quarta-feira (23) e as famílias já fizeram os sepultamentos corretos. A filha do Amadeu Francisco, Madalena Carvalho, conta ao Cidadeverde.com que a família já tinha sepultado o corpo errado quando recebeu a notícia da troca. Por causa da Covid-19, não houve velório e o primeiro enterro ocorreu por volta das 23 horas em cemitério de Simões. Às 2h da madrugada, a família recebeu uma ligação da funerária falando que o “hospital havia informado que o corpo estava trocado”.
“(Depois do 1º enterro), fomos pra casa chocados e abalados, mas o pior estava por vir. Foi um verdadeiro pavor. Tivemos que voltar tudo de novo, a mesma dor, o cansaço, a frustação, pois fomos novamente ao cemitério, onde tiraram o corpo que havia sido sepultado por engano. Fomos esperar o do meu pai chegar para fazer o reconhecimento, por volta das 4 horas da madrugada”.
Madalena conta que a família buscará por seus direitos. “Estamos arrasados pela perda e indignados com a falta de responsabilidade e profissionalismo daqueles que se encarregam de zelar pelos seres humanos. Eu compreendo que deveria haver mais ética e humanidade”.
Hospital
A direção-geral do Hospital Regional Justino Luz emitiu uma nota de esclarecimentos e pediu desculpas às famílias pelo ocorrido. Veja na íntegra:
A direção-geral do Hospital Regional Justino Luz esclarece que após tomar conhecimento de denúncia envolvendo troca de corpos ocorrida na noite desta terça-feira (22), instaurou uma Sindicância (Nº 04/2020) para apurar os fatos e, ao final da averiguação, caso seja comprovado erro e/ou dolo de funcionários do hospital, os mesmos sejam imediatamente penalizados.
O Hospital Justino Luz sempre prezou por uma logística rígida de seus protocolos de entrada e saída de pacientes, assim como, de liberação de corpos para os familiares, buscando humanizar a relação com seus usuários, e diante do fato ocorrido, pede desculpa às famílias.
Fonte: Carlienne Carpaso/ Cidade Verde
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