A pandemia da Covid-19 causou mudanças na vida de todos os artistas e com Maria Sebastiana Torres da Silva, de 58 anos, não foi diferente. A sanfoneira mais carismática da cidade de São Raimundo Nonato, no Sul do Piauí, teve que deixar os palcos e voltar a trabalhar na roça. A musicista está há um ano e dois meses sem tocar sanfona.
Sebastiana foi uma das cinco mulheres escolhidas pela equipe do documentário ‘Falas Femininas’ para retratar a realidade da mulher brasileira. A atriz Fabiana Karla mediou uma roda de conversa com elas, que foi ao ar nesta segunda-feira (8), Dia Internacional da Mulher.
A última apresentação de Sebastiana aconteceu em seu sítio, na localidade Sítio Novo, para comemorar o aniversário de um amigo. Naquela época, já se ouvia falar nos noticiários sobre a circulação do novo coronavírus em alguns países do mundo. “Nós sabíamos do vírus e já estávamos com medo dele”, lembrou a artista.
Passados os meses, com o agravamento da pandemia, a sanfoneira decidiu se isolar em seu sítio com o marido. O confinamento e a dificuldade financeira, devido à perda de vários contratos para apresentações, fizeram com que Sebastiana voltasse a viver da agricultura, com o plantio de coentro e venda de castanha assada.
“O meu isolamento foi no sítio com medo da pandemia. Eu trouxe tudo o que tinha e apelei para a roça. Fiz um canteiro de coentro e fui inventar qualquer coisa para aumentar a renda da família, porque eu não podia tocar mais. Fui assar castanha, queimar e ajudar na renda da família”, relatou.
O isolamento social ajudou a resguardar a vida de Sebastiana e de seus familiares, pois nenhum deles foi diagnosticado com Covid-19. Apesar disso, a musicista não deixou de tocar sanfona em casa, como uma forma de matar a saudade dos palcos.
“Eu trabalhava na roça, mas cheguei a gravar alguns vídeos tocando sanfona para postar na internet. Contei com a ajuda de um genro meu para as gravações”, contou Sebastiana.
O ano de 2020 foi marcado por dificuldades e por desafios para a piauiense. Um deles foi aprender a ler e a escrever. A artista sempre trabalhou e nunca teve a oportunidade de estudar. Agora, com um caderno e uma caneta da mão, a piauiense pretende se alfabetizar.
“Com 58 anos eu comecei a estudar, porque eu vi que a gente sem estudo não é ninguém”, disse.
Sebastiana voltou a sair de casa, quando necessário, para ver seus netos. Porém, a sanfoneira ainda não sabe quando vai voltar a se apresentar. Ela apenas tem a certeza de que, quando retornar aos palcos, será recebida de braços abertos pelo público.
“O meu ganha pão ficou isolado. Tem um ano e dois meses que não sei o que é um centavo vindo da sanfona. Tenho certeza que não será fácil. Mas, o povo não vai me deixar. Quem nunca me viu quer me ver e quem me viu quer me ver milhares de vezes”, comentou ao G1.Sinônimo de garra e força
A história de amor entre artista e a sanfona começou na infância. Aos 7 anos de idade, Sebastiana começou a aprender sozinha a tocar o instrumento deixado por seus irmãos em um quarto bagunçado da casa onde sua família vivia em uma comunidade rural próximo a São Raimundo Nonato. Ela ouvia as músicas tocadas no radinho de pilha da família e tentava fazer igual. A piauiense conciliava a música com o trabalho na roça.
“Minha caneta era o olho da enxada e o caderno era o chão. Eu comecei a puxar um olho de enxada com sete anos e mesmo assim era incutida com a sanfona. Quando eu chegava da roça com fome eu não ia para as panelas, ia para a sanfona”, relatou.
Sanfoneira Maria Sebastiana em São Raimundo Nonato, Sul do Piauí — Foto: Arquivo Pessoal
Quando Sebastiana se mudou para São Raimundo Nonato, a vida artística deu uma guinada. Ela se desdobrava para trabalhar na roça, cuidar dos filhos e a se apresentar nas festas da cidade.
Neste ano, a artista completa 52 anos de carreira. Por onde passa, Sebastiana arrasta admiradores pela sua história de luta e por seu talento demonstrado com a sanfona. “Eu sou a pessoa mais amada do mundo”, agradeceu.
Fonte: G1 PI
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