A recomendação “Fique em casa” nunca fez tanto sentido quanto agora. A técnica em Enfermagem Polyena Silveira participou da equipe de profissionais de saúde que tentou reanimar, sem sucesso, um paciente que morreu no chão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Promorar, na zona Sul de Teresina, por falta de leitos. No desabafo, ela destaca o sofrimento e o cansaço psicológico devido à pandemia da Covid-19 e diz: não vamos esperar chegar dentro da sua casa.
“Não vamos esperar chegar dentro da sua casa pra você entender que não são números, são vidas e vida é sempre o amor de alguém. A gente perder quem a gente gosta, dói. Aquela cena é verídica […] eu estava na equipe, foi no meu plantão de ontem (18). O sistema de saúde tá lotado, tá colapsado. Eu faço um apelo: se puder evitar de sair, evite! evite pela sua mãe, pelo seu pai, evite pelo seu vizinho. Não temos vaga, não temos leito. Nós, profissionais da saúde, estamos sofrendo, estamos com o psicológico cansado e esse apelo fica na esperança de ser atendido“, pediu a técnica em Enfermagem.
Ela enfatiza que o sistema de saúde está colapsado e não há vagas. Com oito anos de profissão, Polyena Silveira diz que nunca presenciou situação semelhante.
“Eu nunca vi o sistema de saúde como estou presenciando. O sistema de saúde colapsou, sim. Não tem vagas, não temos leitos. Faço parte da equipe que recebeu o paciente ontem. O paciente deu entrada em parada cardiorrespiratória, não tínhamos leito, não tínhamos monitor, não tínhamos ventilador. Mas, o que podíamos fazer, foi feito. A gente tá com essa falta de equipamento porque a demanda de paciente tá muito alta e, consequentemente, vai faltar, como está faltando. Fizemos mais de seis ciclos de reanimação cardiopulmonar e, infelizmente, não conseguimos trazer o paciente de volta”, disse Silveira.
SOFRIMENTO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Além do apelo para as pessoas ficarem em casa, a técnica em Enfermagem relatou o cansaço psicológico dos profissionais de saúde que sofrem juntos com cada familiar de paciente que busca atendimento.
“A gente tá numa situação traumática, trabalhando assustada, com medo. Queria fazer um pedido do fundo do coração com toda humildade: se puder ficar em casa, fique em casa. Senão for uma saída essencial, que realmente precisa, fique em casa. Fique em casa por mim, que sou profissional de saúde,pelos meus amigos que sofrem e estão sofrendo a cada paciente que a gente recebe e não temos onde colocar. Estamos sofrendo junto com a família daqueles pacientes que ficam lá fora esperando uma alta, uma transferência, até mesmo um óbito para poder ocupar uma vaga”, pede Silveira.
“É difícil!pra quem tá vivendo, pra quem tá acompanhando é difícil. Enquanto eu estava em um dos ciclos de reanimação desse paciente eu disse: gente, o que está acontecendo? aqui poderia ser meu pai, aqui poderia ser minha mãe, poderia ser meu filho nessa situação. É doloroso, dói!”, declarou a técnica em Enfermagem.
Fonte: Cidade Verde
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