Os seis presos que morreram no ano passado na Cadeia Pública de Altos (CPA), no Norte do Piauí, tiveram um surto de beribéri, doença causada pela falta de vitamina B1 e relacionada a uma alimentação inadequada e pobre em nutrientes. O caso foi revelado nessa sexta-feira (2) pelo El País, que teve acesso ao relatório técnico do Ministério da Saúde.
De acordo com o El País, o documento apontou que 199 dos 656 presos na CPA foram atendidos no serviço de saúde com sintomas e 56 foram internados. Na época, a Secretaria de Justiça informou ao G1 que se tratava de uma infecção não identificada e afastou o diretor da Cadeia Pública de Altos, Antônio Vinicius da Silva, após as mortes dos presos.
Entre maio e junho de 2020, centenas de detentos foram internados após apresentaram sintomas como vômitos, dor abdominal, náuseas, febre, dormência, edema, fraqueza, dor de cabeça e insuficiência renal. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) chegou a testá-los para Covid-19, por medida de segurança, mas os resultados foram negativos.
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Um relatório preliminar da Secretaria de Estado de Saúde (Sesapi) apontou como suspeita que os presos foram contaminados pela água da unidade prisional, que recebeu uma limpeza no sistema hidráulico. O quadro clínico de alguns dos detentos indicou leptospirose, mas os exames descartaram a doença. Já uma investigação do Ministério Público do Piauí concluiu que os presos foram vítimas de envenenamento, causado por uma dedetização realizada sem os cuidados necessários, no início de maio.
Segundo o El País, a investigação do Ministério da Saúde avaliou os casos atendidos, as celas, as rotinas dos presos, cardápios diários e faturas de compras de comida. O órgão concluiu que “a alimentação dos detentos apresentava características de monotonia alimentar, com presença predominante de carboidratos simples, em especial o arroz branco”.
O cardápio do almoço e do jantar continha arroz e frango. No café da manhã, cuscuz e bolacha. Além disso, o intervalo entre o jantar e o café da manhã era de 15 horas, considerado um período muito longo de jejum.
“Concluiu-se que a hipovitaminose causada pela monotonia alimentar/dieta pobre em vitaminas, especialmente a B1, é a etiologia provável do surto”, afirmou o documento.
Devido à pandemia da Covid-19, a entrega quinzenal de alimentos por parte das famílias foi suspensa, o que segundo o relatório, “pode ter agravado o quadro de hipovitaminose a que os detentos se encontravam expostos”. Para o Ministério da Saúde, o hábito “representava uma fonte importante de acesso a frutas pelos detentos”.
Ao G1, a Secretaria de Justiça do Piauí (Sejus) informou que houve um reforço vitamínico e alimentar através de variações de cardápio, conforme instruções da equipe do Ministério da Saúde que esteve presente no local. (Confira a nota na íntegra no fim da reportagem).
Protesto de familiares
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Familiares de presos da Cadeia Pública de Altos realizaram protestos no Centro de Teresina e em frente ao prédio do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI). Os manifestantes pediram mais esclarecimentos sobre as mortes e a situação dos presos com infecção.
Os manifestantes exibiram cartazes pedindo pela interdição da cadeia e pela ajuda de juízes e promotores.
A Defensoria Pública do Estado (DPE) solicitou na época um Habeas Corpus Coletivo, pedindo, em favor de todos os presos da unidade, que prisões cautelares e/ou definitivas sejam substituídas por prisão domiciliar, cumulada com monitoramento eletrônico ou outras medidas cautelares. O pedido não foi atendido pelo Tribunal de Justiça, que determinou uma vistoria na Cadeia Pública de Altos e a transferência de presos.
Nota na íntegra da Secretaria de Justiça:
Acerca do incidente ocorrido em maio de 2020, na Cadeia Pública de Altos, a Secretaria de Estado da Justiça do Piauí esclarece que, desde o início do ocorrido, prestou todos os atendimentos e assistência aos internos que sentiram os sintomas. Em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde do Piauí, uma enfermaria foi instalada na própria unidade prisional, a fim de dar um maior suporte aos detentos, evitando o translado de internos aos hospitais da rede pública de saúde. Além disso, foram feitas limpezas na tubulação e reservatórios de água do presídio, com o intuito de cessar a hipótese de intoxicação pela água. Enquanto os reservatórios de água passavam por limpeza, os detentos receberam água mineral. Também houve um reforço vitamínico e alimentar através de variações de cardápio, conforme instruções da equipe do Ministério da Saúde que esteve presente no local. A Sejus reitera, ainda que, tem mantida a atenção redobrada na saúde de todo o sistema prisional, diante da pandemia por Covid-19.
Fonte: G1 PI
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