A estudante de enfermagem Elayne Pereira, inspirada pelo esforço da mãe em seu trabalho de agente comunitária no interior de Matias Olimpío, a 199 km de Teresina, desenvolveu um filtro ecológico para melhorar a qualidade de vida de famílias carentes no Piauí.
Além do benefício à saúde pública, uma das vantagens do filtro ecológico é o baixo custo, menos de R$ 25 para produção, podendo ser até mais barato caso os baldes utilizados forem adquiridos gratuitamente.
Elayne aproveitou o estágio na área da saúde para estudar sobre o modo de vida e a reincidência de doenças causadas por endoparasitas.
“Durante meu estágio na Unidade Básica de Saúde do bairro Portal da Alegria, que atende comunidades carentes, percebi o grande número de incidência de pacientes com problemas que envolvem parasitoses, verminoses, diarreias e tudo isso ocasionado pela ingestão de água não tratada”, explicou.
Sabendo disso, a estudante procurou o professor Adalberto Paz, de embriologia, para retomar o projeto de filtros ecológicos iniciado em 2019, mas que parou devido à pandemia da Covid-19.
Junto com o seu professor, Elayne continuou investigando a saúde dos pacientes e na semana passada organizou uma oficina no pátio da UBS do Portal da Alegria para ensinar famílias assistidas pela unidade a confeccionarem seus próprios filtros.
“Temos esse projeto para beneficiar famílias carentes, porque sabemos que água é vital. Quando essa água é tratada, ela evita em 70% dos endoparasitas em crianças. O que pode levar um paciente a terapia intensiva ou até mesmo à morte”, explicou o professor.
Inspiração
Elayne contou ao g1 que conhece esse tipo de filtro desde a infância, pois sua mãe Maria de Lourdes Azevedo e seu irmão Eduardo Azevedo já confeccionavam o material. A dona Maria de Lourdes é agente comunitária de saúde da região e produzia os filtros para famílias carentes com muita incidência de doenças por causa de água não tratada.
“Eu sempre ouvia minha mãe falando que as pessoas não tinham filtro em casa, que as pessoas não tinham condição de comprar, que estavam sempre adoecendo e se ela pudesse dava mais filtros para essas famílias. Mas devido as nossas condições financeiras, a minha mãe não conseguia fazer isso. Então ela repassou a ideia”, contou a estudante.
Para a família de Elayne e demais pessoas da comunidade Saco do Pequi, zona rural de Matias Olímpio, o filtro ecológico era a única solução de ter acesso à água potável, segundo a estudante.
“Então a minha inspiração vem de ver a minha mãe, que lá no nosso interior de Matias Olímpio, trabalha como agente comunitária de saúde e se esforça tanto para isso. E estar com os meus professores e ver a importância que eles também dão para ajudar as famílias mais carentes, fazendo com que a gente tenha esse olhar mais humanista para as pessoas”, declarou.
Outra pessoa que incentivou e inspirou o trabalho da acadêmica foi o professor Adalberto Paz, que investiu todo seu conhecimento no projeto dos filtros ecológicos.
“Ele é uma grande inspiração para mim por ser uma pessoa dedicada ao seu trabalho, aos seus alunos, a saúde. Porque ele é uma pessoa que se preocupa realmente em ensinar e me ajudou a enxergar a importância e necessidade desse projeto. Assim como me ajudou a por tudo isso em prática”, disse Elayne.
Projeto em prática
De acordo com o professor Adalberto, o projeto existe desde 2019, mas foi interrompido ano passado devido à pandemia da Covid-19. Neste ano, a equipe responsável pelos filtros ecológicos organizou uma oficina para ensinar essa famílias carentes de água tratada a confeccionarem seus próprios filtros promovendo qualidade de vida e geração de renda.
“A oficina foi na UBS do Portal da Alegria. Foi com os próprios moradores da região que tem atendimento na unidade. O convite aos participantes foi feito por meio da consulta de enfermagem na UBS. Identificamos na consulta a necessidade desses pacientes e a partir daí realizamos o convite para a oficina”, disse Elayne.
A estudante informou ao g1 que todos os filtros confeccionados na oficina foram doados à comunidade atendida pela UBS. Ainda não há data para os próximos eventos assim, mas a previsão é que ocorra em outras UBSs.
“Os baldes, são geralmente vendidos por padarias a R$ 5, a torneira é cerca de R$ 2 e as duas velas custam em média R$ 10. Então por um baixo custo essas famílias vão ter um filtro, já testado em laboratório sua eficiência. Fora que pode virar uma fonte de renda, porque podem confeccionar esses filtros e venderem na comunidade”, explicou o professor Adalberto.
Há cerca de cinco anos, a manicure Ausirene Ferreira utiliza o filtro ecológico. Ela não conhece Elayne e nem o projeto, mas por meio de seu cunhado viu o filtro pela primeira vez.
Desde então, Ausirene também repassa a ideia econômica e sustentável para suas clientes, familiares e pessoas que frequentam sua casa. Ela contou que o filtro além de ser econômico, é muito fácil de ser higienizado.
“Gostei, fiz em casa e deu certo. Tempos depois quando a minha mãe me visitou, ela viu o meu filtro e disse que também queria um, acabamos fazendo dois para ela levar para casa em Porto. Teve uma vez que um pedreiro veio aqui em casa e também gostou da ideia e eu mostrei para ele como fazer. Sempre que me perguntam eu repasso a ideia para outras pessoas fazerem”, contou a manicure.
Promovendo saúde
A acadêmica Elayne e o professor Adalberto reforçam a importância do filtro ecológico. Para eles, equipamento tem grande utilidade porque é uma promoção de saúde, questão de prevenção. Segundo eles, não basta o paciente buscar só o tratamento, ele também precisa de acesso à prevenção de doenças.
“Nós, como profissionais, temos que ter esse olhar holístico quanto ao paciente, de enxergar suas necessidades, de observar e ver a realidade de cada um para assim levar meios para que essas pessoas possam estar se prevenindo e não só tratando uma doença que vai ter reincidência”, disse Elayne.
O professor destacou a felicidade de saber da propagação do projeto. “Então é muito gratificante, porque a gente vai disseminar aquele conhecimento na comunidade. Vai dar uma assistência à população e, consequentemente, melhoria de vida na saúde pública”, finalizou Adalberto.
Fonte: G1 PI
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