O piauiense Raislúcio Leal, de 20 anos, desenvolveu um projeto para incentivar o hábito da leitura e mapear bibliotecas públicas por todo o Brasil. Em junho deste ano, o idealizador do “Leitura Ativa” foi reconhecido como um Jovem Transformador pela Ashoka, organização mundial de empreendedorismo social.
A iniciativa possui duas frentes: Clube do Livro, um espaço online onde jovens brasileiros conversam, debatem e refletem sobre literatura; e Mapeadores, que reúne dados de bibliotecas públicas espalhadas pelo país, a fim de que os jovens conheçam os espaços onde podem ler gratuitamente.
Atualmente, a equipe é formada por sete jovens dos estados do Piauí, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. O projeto, no entanto, segundo Raislúcio, já alcançou 16 estados, nas cinco regiões do país.
Até 30 de julho, o Leitura Ativa está com inscrições abertas para o processo seletivo de novos voluntários. Há vagas abertas para as seguintes funções: facilitador de leitura, criador de conteúdo digital, assistente técnico, diretor de atividades, comunicação, admissões e design. O formulário de inscrição pode ser encontrado no perfil do projeto no Instagram.
“Sou fiel à ideia de que jovens podem e devem lutar por um país melhor e menos desigual. Tenho a percepção que, atualmente, o Leitura Ativa faz mais por mim do que eu por ele, pois esse projeto me concede propósito e permite que eu contribua com o Brasil que idealizo, um Brasil repleto de jovens leitores”.
“Nossa equipe enxerga a leitura como fonte de lazer e emancipação de grupos marginalizados: os livros são válvulas de escape; instrumentos de ampliação de vocabulários, repertórios e criatividade. São uma oportunidade de você se desconstruir pelo contato com o diferente e reconstruir a partir do contato com o igual”, contou Raislúcio.
Projeto surgiu durante pandemia
Ao contrário do que muitos podem imaginar, o hábito da leitura não é antigo na vida de Raislúcio. Natural de Belém do Piauí e estudante de direito na Universidade Estadual (Uespi), campus Picos, o jovem começou a se interessar por literatura após ver a relação que uma amiga tinha com os livros, já na adolescência.
Ao lidar com desafios relacionados a saúde mental, sobretudo durante a pandemia de Covid-19, encontrou no universo literário um escape emocional.
“Meus avós, minha mãe e meu pai, cresceram em um contexto marcado pela agricultura de subsistência e o trabalho precoce, sendo que educação sempre foi um direito distante. Havia o desejo de ampliar meus repertórios socioculturais para realizar o vestibular, porém os livros não me pareciam interessantes, pela falta de estímulos e de condições aquisitivas”, relembrou Raislúcio.
“Relatei minhas circunstâncias para uma amiga chamada Yasmin, hoje voluntária do Leitura Ativa, que me apresentou a obra ‘O diário de Anne Frank’ e disse que na nossa cidade havia uma biblioteca pública. Pedi emprestado o livro e, quando cheguei em casa, me debrucei”, completou o jovem.
A ideia de desenvolver o Leitura Ativa surgiu logo depois, ao participar como embaixador da Conferência do Protagonismo Juvenil (CPJ), em 2021.
“Um dos convidados da conferência disse ‘a ideia para você que deseja transformar a sociedade pode estar em um problema que você conseguiu superar’. Logo me remeti à falta de estímulo e de condição financeira que os jovens brasileiros, sobretudo os de baixa renda, sofrem em relação ao acesso a livros. Pensei em um projeto que pudesse tornar atrativa a leitura para o jovem e levassem conhecimento sobre como eles poderiam ler, mesmo sem dinheiro”, disse.
Hoje, dois anos depois, a página do projeto no Instagram, onde são realizadas lives temáticas e divulgadas as atividades do grupo e dicas de livros, conta com mais de mil seguidores. No Piauí, o Leitura Ativa chegou a atuar na reativação da biblioteca pública do Centro Educacional Sebastião de Sousa, em Belém do Piauí.
“Em 2022, entendi a importância de montar uma equipe para solidificar e ampliar o projeto. Vários jovens relataram que nunca haviam feito uma leitura, mas, ao ver outros jovens, se sentiram inspirados em começar o hábito no Clube. Além disso, conectamos os jovens com uma escritora e uma dona de editora, fazendo com que aqueles que têm o desejo de escrever e publicar possam tirar dúvidas”, disse.
Primeiro piauiense reconhecido pela Ashoka
Este ano, Raislúcio se inscreveu para o Programa Jovem Transformador Ashoka. A organização identifica, anualmente, jovens de 13 a 20 anos que lideram causas, projetos e ações que provocam impactos positivos na sociedade brasileira. O jovem é o primeiro piauiense selecionado pela Ashoka.
“A seleção durou em torno de quatro meses. Foram realizadas várias entrevistas com empreendedores sociais, educadores, comunicadores, gestores públicos e outras lideranças jovens do Brasil, mas também da Indonésia, Nigéria e Estados Unidos”, relatou.
O anúncio dos Jovens Transformadores Ashoka 2023 foi feito no dia 16 de junho, durante o Festival LED – Luz na Educação, no Rio de Janeiro.
“Ser selecionado é uma oportunidade de demonstrar que o estudante piauiense, de escola pública e do interior é capaz de tudo aquilo que deseja. Nós somos potentes e, ao descobrirmos isso, os desafios se tornam pequenos frente aos nossos sonhos”, concluiu Raislúcio Leal.
Fonte: G1 PI
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